Um adolescente da cidade de Atlanta, recentemente, virou noticia depois de acordar de um coma. Isso porque o jovem, que tem 16 anos de idade, começou a falar espanhol fluentemente depois de acordar de um coma.
Rueben Nsemoh é um falante nativo de inglês que sabia um pouco de espanhol básico antes de sofrer uma concussão durante um jogo de futebol, mas quando acordou do coma, provocado por uma lesão, Rueben era capaz de falar espanhol “como um nativo” e tinha bastante dificuldade para falar sua língua nativa, o inglês.
Segundo Rueben, quando ele falava espanhol, era como se fosse algo totalmente natural, e quando tentava falar inglês, ele não conseguia se expressar pois era bastante confuso. Rueben diz que, embora, não tenha ficado assutado, se sentiu estranho, mas gostou muito da experiencia,, pois segundo ele, foi algo único.
Desde o incidente, Rueben vem lentamente recuperando sua capacidade de falar inglês. E suas habilidades com a língua espanhola, estão desaparecendo. Já os médicos, tem lutado para tentar explicar exatamente o que aconteceu com Rueben.
Apesar do caso ser bastante estranho, Rueben não é o único que teve essa experiência. Existem várias histórias de pessoas que após sofrerem lesões na cabeça, começaram a falar em outro idioma.
Alguns casos: Depois de um acidente vascular cerebral, um inglês começou a falar galês, embora ele nunca tenha formalmente aprendido a língua. Uma adolescente croata, que acordou de seu coma, foi capaz de falar fluentemente alemão, língua na qual ele tinha começado a estudar a pouquíssimo tempo. Depois de acordar de um acidente de carro, um australiano era apenas capaz de falar em mandarim, língua que ele tinha estudado na escola, mas que não tinha se tornado previamente fluente.
O que todos esses casos têm em comum é que todos os pacientes sabiam um pouco da língua da qual passaram a falar, embora não fossem fluentes nela. Todos eles sofreram uma lesão grave na cabeça, todos se esforçaram para falar sua língua nativa assim que acordaram do trauma e todos também, ao longo do tempo, conseguiram recuperar a capacidade de falar sua língua nativa.
Mas de um ponto de vista científico, como isso é possível?
A realidade, é que os pesquisadores ainda não estão inteiramente certos, mas estas novas habilidades de linguagem parecem ser causadas pelo cérebro se “religando” após uma lesão traumática, e é mais provável que essa “fluidez” repentina em falar uma nova língua esteja ligada a uma rara condição chamada de Síndrome do Sotaque Estrangeiro.
Houve pelo menos 200 casos documentados da Síndrome do Sotaque Estrangeiro, que ocorre quando alguém se recupera de uma lesão cerebral falando em outra língua previamente aprendida.
Um dos primeiros casos documentados, foi o de uma mulher norueguesa que foi atingida por estilhaços de uma bomba durante um ataque aéreo na Segunda Guerra Mundial. Após ela acordar falando com sotaque alemão – seus amigos e vizinhos, subsequentemente, começaram a evita-la, porque temiam que ela fosse uma espiã da Alemanha.
A síndrome é causada por danos na parte do cérebro que controla os músculos usados para produzir a fala.
Segundo Lyndsey Nickels, professora de ciência cognitiva na Universidade Macquarie, Austrália, o ato de falar requer um controle muito preciso dos músculos dos lábios, língua e mandíbula (os articuladores da fala) e da laringe (que é a caixa da voz).
Se a disposição dos articuladores, velocidade ou coordenação dos movimentos ficam um pouco fora de sincronia, então os sons da fala são alterados, acrescenta Lyndsey.
Estas pessoas não estão realmente falando com um novo sotaque, elas estão apenas perdendo o controle sobre a forma como elas normalmente pronunciam vogais e consoantes, e isso pode fazer com que elas pareçam estarem falando com um certo sotaque.
Isso também pode leva-las a soarem como se fossem fluentes quando falam outra língua, mesmo elas cometendo um monte de erros dessa respectiva língua.
Isso pode ser parte do que está acontecendo quando as pessoas acordam de um ferimento na cabeça falando “fluentemente” em outro idioma, como no caso de Rueben Nsemoh. Na realidade, esses pacientes podem não ser realmente hábeis em falar um novo idioma como eles aparentam ser, mas seu novo sotaque pode fazê-los soar dessa forma.
Há também a possibilidade de que essa capacidade de começar a falar fluentemente uma língua pouco conhecida, poderia ter mais a ver com o fato de que todos os pacientes pareciam ter perdido imediatamente a capacidade de falar sua língua nativa após a lesão.
Isto poderia ser o resultado de algo conhecido como Afasia – uma deficiência comum de linguagem que é muitas vezes causada por acidentes vasculares cerebrais. Seu prognóstico é muitas vezes descrito quando palavras estão o tempo todo na ponta da língua, mas você não consegue acessá-las.
Normalmente, a Afasia afetaria todas as línguas que uma pessoa sabe, mas é possível que nestes casos, somente a língua nativa dos pacientes estivesse sendo afetada – que é o que lhes permite acessar partes de um idioma secundário que eles nem sequer sabiam falar a nível de conversação.
Com relação a adolescente croata que acordou apenas sendo capaz de falar alemão, Steven Novella, um neurocientista da Universidade de Yale, Connecticut, diz que a questão é – ela poderia ter sofrido de uma forma de Afasia incomum que acabou comprometendo sua capacidade de desinibir sua língua croata, deixando-a apenas capaz de falar alemão? Isso poderia, teoricamente, ter o efeito de tornar seu alemão aparentemente mais fluente, porque ela não tem que gastar energia mental, inibindo sua língua croata.
Por agora, estas são apenas hipóteses e ainda há estudos sobre isso a serem revisados. Mas os pesquisadores esperam que com mais pesquisas, eles possam finalmente começar a entender como nosso cérebro se “religa” após uma lesão, às vezes nos dando notáveis novas habilidades.