Na última quarta-feira (6), o presidente dos Estados Unidos, Donald, anunciou a transferência da embaixada americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Tal mudança significa que, a partir de agora, o país reconhece a cidade sagrada como capital de Israel, o que gerou a revolta de muitos países árabes, especialmente os palestinos.
Donald Trump chegou a afirmar que não estava querendo tomar partido de um dos lados do conflito entre palestinos e israelenses. Mas sua decisão só deve complicar ainda mais de um embate que dura séculos e aparenta jamais ter um fim.
Um dos motivos é que Jerusalém é considerada uma cidade sagrada tanto para judeus quanto muçulmanos, isso sem contar os seguidores do cristianismo.
Mas afinal, por que Jerusalém é considerada uma cidade tão importante?
Qual é o atual status de Jerusalém?
Israel criou seu paralmento em Jerusalém Ocidental após o Estado ser estabelecido em 1948. Esse movimento ocorreu logo após as Nações Unidas votarem pela partilha da Palestina a partir da declaração de criou um caminho para o desenvolvimento de um lar para os seguidores do judaísmo.
Israel ocupou 78% dessa terra, sendo que os outros 22% foram divididos entre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.
Em 1967, estourou a Guerra de Seis Dias, na qual Israel anexou o Jerusalém Oriental, que era controlada pelo árabes, incluindo a Cidade Antiga. Desde então, os israelenses afirmam que as duas partes da cidade sagrada fazem parte de sua capital.
No entanto, os palestinos afirmam que Jerusalém Oriental ainda é sua capital. A maior parte dos países não reconhecem Jerusalém como capital de Israel e mantém suas embaixadas na cidade de Tel Aviv.
Por que Jerusalém é tão importante para os dois lados?
Esse item será longo, mas é de suma importância para explicar a importância da cidade. O principal motivo é sua história religiosa, pois ela é considerada sagrada pelas três principais religiões monoteístas do mundo: Cristianismo, Judaísmo e o Islamismo.
Segundo o Judaísmo, Abraão (considerado pela religião como o primeiro judeu) atravessou a área enquanto estava em busca da chamada “Terra Prometida”. Jerusalem seria o local em que Abraão quase sacrificou seu filho, Isaque, mas Deus não lhe teria permitido fazer isso.
Após retornarem do Egito (os judeus haviam fugido de suas terras para não morrerem de fome), os israelitas voltam para casa e o Rei David escolheu Jerusalém para ser a capital de Israel. A cidade também se tornou sagrada pelo fato de Salomão, filho de Davi, ter construído o Monte do Templo (onde se encontram a Mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha), local mais sagrado do judaísmo, junto do Muro das Lamentações.
Para os muçulmanos, Jerusalém também é considerada um cidade sagrada. Primeiramente, os seguidores do Islamismo precisavam rezar em direção à cidade, antes da mudança para Mecca. Quando o profeta Maomé iniciou sua missão, no ano de 610, ele seguiu judeus e cristãos e orava em direção a Jerusalém, pois via o Islã como uma continuidade das religiões abraâmicas. Mas queria que Deus mudasse a direção das orações para Mecca, e foi exatamente o que aconteceu posteriormente e está até mesmo registrado em trechos do Alcoorão.
Jerusalém é considerada o terceiro local mais sagrado do islamismo, pois foi o local em que, durante sua jornada espiritual, o profetá Maomé conseguiu sua ascensão ao paraíso e teve uma visão de Deus.
Por fim, a cidade também é considerada sagrada para os seguidores do Cristianismo. O motivo é que Jesus Cristo teria sido condenado na cidade e precisou passar pela chamada Via Dolorosa, local em que precisou carregar a cruz em que seria crucificado.
Dentro da Via, se encontram nove das chamadas 14 estações da cruz, sendo que as cinco restantes se encontram dentroda Basílica do Santo Sepulcro, local em que ele foi crucificado, sepultado e no terceiro dia, ressuscitado.
Além disso, Jerusalém seria a cidade em que Jesus Cristo fazia suas preces e realizou a Última Ceia com seus apóstolos antes da crucificação. Jerusalém é um local de tristeza e desolação para os cristãos, mas também um símbolo de esperança e redenção.
Por que a intervenção de Donald Trump é prejudicial?
Muitos afirmam que Jerusalém é de extrema importância para que, um dia, judeus e muçulmanos façam um acordo de paz, especialmente se levarmos em conta que israelenses e palestinos consideram a cidade sagrada sua capital. Mas o fato de Trump decidir que os Estados Unidos reconhecem a cidade como capital isralense pode complicar ainda mais as chances de um acordo de paz. Isso também pode afetar a imagem dos Estados Unidos como “conciliador” nessa história.
E todos já sabemos que basta pouco para que a violência exploda no local. Por exemplo, em 2000, a Segunda Intifada (nome dado às insurreições de palestinos contra Israel) começou após uma visita do então líder da oposição de Israel, Ariel Sharon, até a Cidade Antiga.
Como que o status de Jerusalém pode ser resolvido de forma pacífica?
Jerusalém é descrita por muitos como a parte mais intratável do conflito mais longo da história e que parece não ter uma solução de paz. Só que muitos acreditam que a melhor opção é a chamada“solução de dois Estados”: reconhecer Jerusalém como capital das duas nações(Jerusalém Oriental para a Palestina e Jerusalém Ocidental para Israel).
Um terço da população da cidade é composta de palestinos. E a coexistência entre os dois povos é complicada até mesmo em seu dia a dia, já que essa maioria é constantemente vigiada por soldados e policiais israelenses.
Apesar da população ser livre para ir a qualquer local da capital dividida, a segurança de Israel colocou alguns pontos de inspeção nos bairros dominados por palestinos, que agem em momentos de tensão entre as duas partes.
Desde 1967, Israel já construiu milhares de assentamentos, nos quais mais de 200 mil judeus moram, em Jerusalém Oriental. Eles são considerados ilegais pelas leis internacionais, apesar de Israel afirmar o oposto.
A cidade sagrada é governada por um prefeito e um conselho, e seus membros são eleitos a cada quatro anos. Os palestinos que vivem na parte oriental possuem direito de voto, mas a maior parte se recusa a participar dos pleitos.
Como que Trump justifica a mudança da embaixada americana?
A embaixada dos Estados Unidos em Israel fica em Tel Aviv. Fazer a mudança para Jerusalém é um gesto extremamente simbólico e inflamatório a favor de Israel e uma afronta para os palestinos.
Só que Trump tem uma carta em sua manga: em 1995, em meio a manifestações em favor de Israel, o Congresso americano (que era controlado pelo partido republicano) aprovou uma lei que instruía o presidente americano a mover a embaixada para a cidade sagrada. Mas todos os presidentes desde Bill Clinton sempre assinavam um termo de desistência da ideia a cada seis meses, que estava previsto no texto e que sempre adiava essa mudança justamente por questões de segurança.
E por que Trump fez isso agora?
Essa decisão de Donald Trump não tem um fundo muito diplomático, já que muitos acreditam que isso se trata de uma forma de cumprir uma promessa de campanha.
Durante sua campanha presidencial, prometeu a cristãos evangélicos e apoiadores pró-Israel que ele faria a mudança da embaixada. E nem é preciso dizer que essa promessa foi muito popular dentro dessa parcela de votantes, incluindo o magnata dos casinos Sheldon Adelson, que chegou a doar US$ 25 milhões para a causa de Trump. E ficou irado ao ver que o presidente havia assinado o termo de desistência no último mês de junho.
Assim, muitos acreditam que ele esteja apenas cumprindo uma promessa que fez durante sua campanha.
Por que os países árabes não gostaram da mudança?
Pesquisas de opinião mostram que 90% dos árabes enxergam Israel como seu principal inimigo. Então, nenhuma regime árabe quer ter problemas políticos internos por aparecer ao lado dos Estados Unidos.
Com a decisão, Trump pode ter sabotado sua própria estratégia de encontrar paz no Oriente Médio. Não apenas entre israelenses e palestinos, mas também entre muçulmanos sunitas que vivem em Israel e na Arábia Saudita.
Muitos acreditam que Trump também pode ter feito isso para os sauditas diminuirem a influência que estão recebendo dos Xiitas do Irã (inimigos mortais dos Sunitas) e seu aliados, que estão no Iraque, Síria e Líbano. Os sauditas podem ser forçados a abandonar seus movimentos clandestinos a respeito de uma aceitação maior do estado judeu.
Outros países reconhecem Jerusalém como capital?
O mundo – incluindo a China – está unido em não aceitar a afirmação de Israel de que Jerusalém é sua capital.
Uma rara exceção é a ilha de Vanuatu, no Oceano Pacífico, que fez o reconhecimento em maio deste ano. Baldwin Lonsdale, ex-presidente do país, que faleceu em junho, era um cristão evangélico que afirmava ter uma “forte conexão com o povo judeu e Israel.”
Taiwan também considera Jerusalém capital de Israel. Só que Israel sequer reconhece Taiwan como país.
A posição da Rússia é considerada ambígua, mas tudo indica que ela deve reconhecer a cidade sagrada como capital de Israel, caso um acordo de paz seja firmado um dia.