O combate contra a pandemia do coronavírus no Brasil tem sido um grande debate não só no país, como também no estrangeiro, por inúmeros motivos – que vão desde a desarticulação das políticas sanitárias às campanhas com viés negacionistas sobre a gravidade do vírus.
A imunização nacional acontece há quatro meses, mas a baixa cobertura populacional bem como o “jeitinho brasileiro” de atuar perante à pandemia, impõe o Brasil em um terreno propício para mutações do vírus cada vez mais hostis, avaliam técnicos.
Segundo um balanço realizado por sanitaristas, o país está sujeito a ganhar uma cepa ainda mais mortal que a indiana e ainda mais resistente a vacina.
No entanto, os especialistas ponderam que não se pode afirmar que essa nova cepa realmente vá existir, mas que se considerar o comportamento imprevisível do vírus Sars-Cov-2, pode-se esperar qualquer evolução.
Conforme o médico sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz e ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, os vírus sofrem mutações o tempo todo e é necessário que se trabalhe considerando diferentes cenários de risco.
Além disso, não é possível negar que a cepa da Índia ainda não tenha chego ao Brasil, explica o pesquisador do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da FGV-EAESP, Adriano Massuda.
“A falta de exigências para entrada de estrangeiros e de medidas preventivas nas fronteiras já pode ter aberto essa passagem”, afirma. No momento, a Casa Civil já inclui o país na lista de restrição para pousos no Brasil.
Negligências brasileiras
Como se não bastasse a inconstância no cronograma de vacinação do país que ocorre com imprevisibilidade e falhas intencionais do governo, a população vêm negligenciando a segunda dose necessária para a eficácia do combate imunológico.
Apesar do país estar em nono lugar no ranking dos países que estão vacinando, Massuda afirma que a posição poderia ser muito melhor.
“Na medida em que não protegemos grupos vulneráveis, eles desenvolvem a doença, continuam a transmissão e isso propicia o surgimento de variantes.”
É importante relembrar que o Brasil desenvolveu uma variante amazônica que impactou faixas etárias mais jovens e já recebeu outras formas de contágio.