Infelizmente, as correntes com notícias falsas, também conhecidas como Fake News, se espalham cada vez mais na internet, a uma velocidade impressionante. Muitos acreditam que tratam ser realidade o que foi divulgado, o que é algo que pode trazer consequências trágicas, como já vimos em alguns casos.
Confira abaixo três casos de notícias falsas que quase acabaram com morte no Brasil, compilados por reportagem do jornal O Globo:
1) “Carcereiro do Cabral”
Leandro Santos de Paula é um jovem de 22 anos, morador do bairro de Manguinhos, um dos mais violentos do Rio de Janeiro. Em 2009, Leandro ficou famoso por gravar um vídeo ao lado do então Governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (que atualmente está preso,) no qual ele chamava o jovem de “otário”, após questioná-lo sobre obras e ação policial em sua rua.
Confira no vídeo abaixo a reportagem sobre a repercussão do vídeo:
No final de janeiro, começou a circular um boato de que Leandro atualmente trabalhava em Bangu 8, na mesma ala em que Cabral está preso, o que muitos associaram como uma espécie de “vingança”, pela grosseria do Governador contra o jovem oito anos antes.
Só que isso se tornou uma verdadeira ameaça de morte para Leandro. Muitos de seus amigos e vizinhos avisaram que seu rosto estava exposto nas redes sociais, e de fato várias pessoas começaram a acreditar na história. O jovem lembra que se trabalhasse com isso, teria de se mudar do bairro, por conta da ação de traficantes.
“Onde eu moro, você não pode ser policial ou agente penitenciário. Então meus amigos e vizinhos começaram a me ligar com medo de eu morrer sem ter feito nada. O risco era algum bandido achar que era verdade”, disse Leandro.
O boato surgiu no final de novembro, como uma sátira de um site de humor chamado “Joselito Muller”, que transforma fatos reais em piada. O advogado Emanuel Grilo, responsável pelo site, assume parte da culpa, mas lembra que a responsabilidade principal é de quem divulgou a brincadeira como uma notícia falsa.
“Indiretamente eu tenho que admitir que sim, tenho responsabilidade. Mas a notícia que publiquei era sem noção, não tinha como tomar como verdade. Eu acho que a responsabilidade maior é de quem pegou aquilo e publicou como notícia”, disse Grilo.
2) O dono de Pet Shop que virou traficante
Também no final de novembro, um dono de um Pet Shop foi parado por um blindado do Batalhão de Choque enquanto fazia entregas de ração de gato em sua moto.
O motivo de ele ser parado é que a polícia acreditou que o comerciante fosse algum traficante, já que houve uma guerra de facções, alguns dias antes, na favela Cidade Alta, no Rio de Janeiro.
Mal sabia ele que alguém gravou um vídeo, que mostrava a polícia verificando as caixas de ração. Só que a gravação acabou sendo divulgada com títulos como “Policiais do caveirão entregam munição para o Terceiro Comando”. Isso foi o suficiente para transformar a vida do comerciante.
“Eu fui avisado por uma amiga. O vídeo já tinha milhões de visualizações no Facebook, e as pessoas estavam recebendo por WhatsApp. Eu desabei. Fiquei com medo de sair de casa, parei de fazer entregas com a moto. Achava que ia morrer, passei a tomar antidepressivos”, afirmou.
A vida do dono de Pet Shop só ficou mais tranquila após o vídeo ser esclarecido como falsa acusação virtual pela Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), que afirma que denúncias relacionadas a notícias falsas estão crescendo vertiginosamente.
3) Acusado de transmitir HIV
O corretor de seguros Marcelo de Novaes é uma das pessoas que precisou comparecer ao DRCI, após uma acusação falsa. Há aproximadamente um ano, ele diz que vários perfis compartilham sua foto, acompanhada de um texto que afirma que ele está transmitindo o vírus HIV para pessoas.
“Eu passei a receber mensagens me xingando. Minha namorada também recebe. Meus clientes podem ver a publicação. Gente da minha família viu. Além da acusação absurda, ainda expuseram minha sorologia. Pensando nisso, não paro de me lembrar de uma mulher que foi apedrejada no Guarujá”, disse Marcelo.
O corretor de seguros fez menção ao caso da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, que foi espancada e morta pessoas de seu bairro em 2014, após ser confundida com um retrato falado divulgado em uma página do Facebook chamada Guarujá Alerta. A postagem dizia que Fabiane sequestrava crianças para rituais de magia negra.
O tal retrato falado foi feito no Rio de Janeiro e a polícia do Guarujá apurou que não houve qualquer queixa de sequestro de crianças na cidade. O dono da Guarujá Alerta nunca foi processado, mas cinco agressores foram condenados de 26 a 40 anos de prisão. Mais um caso para a lista de notícias falsas.
Texto por Augusto Ikeda
Edição por Igor Miranda